Sobre o futuro dos bibliotecários e outras questões

No Seminário de Pesquisa em Ontologias do Brasil – Ontobras 2017, que está sendo realizado na Finatec – UnB, de 28 a 30 de agosto, durante a palestra “Estudos de caso do uso de Ontologias pelo Watson IBM”, o apresentador, Wagner L. B. Arnaut, fez a provocação: Com o Watson, ainda iremos precisar dos bibliotecários? 

Antes desse questionamento, foram apresentados diversos casos de utilização da tecnologia da IBM de Inteligência Artificial (AI) denominada Watson no processamento de linguagem natural (PLN), com exemplos no tratamento de pacientes com câncer; na seleção de legislação, jurisprudência e outras fontes para a solução rápida de casos jurídicos; na implementação de exposição de arte interativa com respostas às perguntas sobre obras de arte;  no atendimento virtual em call centers; na participação do quiz show da televisão americana Jeopardy, em que  o Watson conseguiu ganhar de especialistas humanos, entre outras aplicações.

O seminário está sendo bastante inovador, favorecendo a troca de conhecimentos entre pesquisadores e apresentando teorias, metodologias, linguagens, ferramentas e experiências relacionadas ao desenvolvimento e aplicação de ontologias.

A Ontologia é um campo interdisciplinar com interfaces para a Ciência da Informação – trabalhos sobre o uso de ontologias, thesauri, gestão de conhecimento; Banco de dados –  trabalhos sobre o uso de integração semântica, linked open data; Inteligência Artificial –  trabalhos que utilizam sistemas baseados em conhecimento, agentes, raciocínio em ontologias; Engenharia de Software –  trabalhos sobre modelagem conceitual, modelo de processo de negócio, entre outras aplicações; Informática na Educação – trabalhos sobre ontologias educacionais, padrões educacionais baseados na Web Semântica; Linguística e Filosofia – trabalhos sobre processamento de linguagem natural utilizando ontologias, teorias de representação, entre outras aplicações[1].

Na provocação do início deste texto, o palestrante referia-se ao processo de desintermediação, que é um reflexo da mudança no modo como as pessoas consomem informação. Bibliotecários, advogados, médicos e várias outras profissões devem-se preparar para esse processo, iniciado há algumas décadas e, para o qual, é preciso adquirir novas habilidades.

Outras apresentações do evento também mostraram mudanças iminentes no trabalho executado pelo bibliotecário, especialmente no desenvolvimento de instrumentos que se organizam a partir de conceitos e de seus relacionamentos, como as ontologias, os tesauros e as redes semânticas.  Por se tratar de um seminário de pesquisa, muito do que foi apresentado sobre a construção automática de ontologias ainda requer a análise de especialistas para validar os instrumentos construídos, mas isso não será para sempre.

Ontologias linguísticas representam um novo paradigma. São recursos essenciais no PLN, a base da AI, e revolucionam o processo de aprendizagem dos computadores na criação de novos conhecimentos a partir dos conhecimentos existentes, bem como a recuperação de informação na Web Semântica.

No entanto, o desenvolvimento e a manutenção manual de tesauros e ontologias são processos caros, morosos e de difícil atualização, especialmente em vista do volume de informações produzidas atualmente em qualquer domínio do conhecimento.  Essa atividade irá desaparecer.

A InnovaGestão concluiu, no primeiro semestre de 2017, consultoria ao Superior Tribunal Militar, relativa ao desenvolvimento do Tesauro da Justiça Militar da União e, atualmente, está trabalhando na revisão e atualização do Vocabulário Controlado do Sebrae. Serviços especializados que, no futuro, serão substituídos pela construção automática de ontologias. Nós, os bibliotecários, poderemos continuar prestando serviços relevantes para a organização do conhecimento, se procurarmos evoluir juntamente com as novas tecnologias.

 

[1] Programa do evento < http://www.ontobras2017.org/pt/chamada-de-trabalhos/>