ATÉ QUANDO OS BIBLIOTECÁRIOS TERÃO EMPREGOS?

No mês em que se completaram 50 anos da regulamentação da profissão de Bibliotecário, os blogs especializados travaram um debate de altíssimo nível sobre o futuro da profissão.

A questão foi levantada por Gustavo Henn, em 10 de agosto, no blog “Bibliotecários sem Fronteiras”, com o postO futuro da biblioteconomia[1]”, em que indaga: “o que faz um bibliotecário que uma máquina não pode fazer melhor?”. Segundo ele, as atividades desenvolvidas pelos bibliotecários, a exemplo de outras profissões baseadas em inteligência lógica, na matemática, na linguística, serão substituídas por máquinas. Ainda na opinião dele, “[…] estamos cavando nossa própria cova. Toda vez que alguém cria uma ontologia morrem algumas vagas de bibliotecários”. Ele acredita que os bibliotecários de referência ainda continuarão essenciais.

O segundo artigo foi de Dora Steimer, “Haverá futuro?[2] Já está tendo”, publicado também em 10 de agosto, no seu blog, Index-a-Dora. Ela acredita no futuro da profissão e que a “[…]organização da informação, hoje, mais do que jamais foi, é trabalho de bibliotecário sim!”

Moreno Barros deu continuidade ao debate, em 13 de agosto, com o post “Como identificar uma pintura usando Google Images”[3], também publicado no blog “Bibliotecários sem Fronteiras”, abordando como a informatização tem atingido atividades tradicionalmente desenvolvidas por bibliotecários, e exemplifica com um vídeo sobre o processo de automação da busca de livros nos armazéns da Amazon.

No entendimento de Moreno, teremos trabalho enquanto houver documentos em suporte físico a serem convertidos para o suporte digital. Iremos “definir os metadados elementares de todos os materiais textuais, visuais e outras mídias que ainda existem fisicamente, e jogá-los na internet, para que outros profissionais façam melhor sentido desses objetos”.  Ele acredita que devemos deixar ao encargo do pessoal da computação o restante do trabalho porque eles têm sido mais bem sucedidos no armazenamento, recuperação, disseminação e contextualização da herança cultural da humanidade. Moreno afirma ainda que a organização da informação se tornou apenas uma espécie de defesa corporativista, na contramão da realidade pragmática do mundo moderno.

Em 19 de agosto, o debate foi enriquecido pelo post de Fabiano Caruso, “Qual a finalidade do trabalho do bibliotecário?[4]”, que procura apontar um caminho para a essencialidade da profissão. Segundo ele, a finalidade de atuação profissional não é a disseminação da informação em qualquer suporte indiscriminadamente. “A nossa atuação profissional deve ser centrada em como melhor adequar nossos meios (recursos e serviços de informação) para os fins (pessoas)”.

Caruso advoga a necessidade de orientar nossas práticas no sentido da prestação de serviços às pessoas, com os tipos de bibliotecas que as direcionem para comunidades e necessidades pré-definidas. A nossa atuação deve dar-se em consonância com o nosso código de ética, para preservar o cunho liberal e humanista de sua profissão, fundamentado na liberdade da investigação científica e na dignidade da pessoa humana.

Um grande economista e especialista em Educação veio juntar-se ao debate. Em 24 de agosto, Cláudio de Moura Castro, publicou, em sua coluna quinzenal, na Revista Veja n. 34, de 26 de agosto, o ensaio, Bibliotecas: metamorfose ou morte?[5]. Ele analisa a mudança no cenário das bibliotecas, em razão das facilidades da internet, que fizeram com que os periódicos científicos, os jornais e outras fontes de informação migrassem para o ambiente virtual, a tal ponto que, “em poucos anos, caberão em um notebook todos os livros produzidos na história da humanidade. Um pouco adiante, e enfia-se tudo em um celular”.

Ainda segundo Cláudio de Moura Castro, é risível o tamanho das bibliotecas em papel. A Wikipédia esmaga a mais ambiciosa enciclopédia tradicional. E para que bibliotecária se o “Santo Google” acha tudo rapidinho? Por 10 dólares ou pouco mais, a versão digital de praticamente todos os livros em inglês pode ser comprada na Amazon. Um minuto depois de um só clique, o livro está em nosso poder. Ele considera inevitável que o Brasil vá pelo mesmo caminho – apesar do atraso presente. E não há como impedir a digitalização pirata de livros populares

O autor questiona sobre o que será das bibliotecas nesse processo de mudanças. “São caras, e seu acervo no Brasil é pífio, falta-nos o hábito de frequentá-las. Portanto, se definharem sua falta não será notada”. Mas ele acredita que as bibliotecas podem ter o seu lugar no futuro, desde que se transformem. “Biblioteca careta e chata não sobreviverá. Como depósito de livros, está condenada”. Para ilustrar a transformação necessária, ele menciona a arquiteta americana, Maya Lin, que considera as bibliotecas como “templos de hoje, espaços para reflexão, exploração intelectual e discussão de ideias”.

A fórmula, segundo o Educador, é imitar a biblioteca de Alexandria, a primeira grande biblioteca que o mundo conheceu. Ela possuía uma arquitetura memorável, e sua concepção antecipa essa linha. “Além dos livros, tinha jardins, exposições de arte, concertos e outras atividades culturais. No dizer de um contemporâneo, era um lugar para curar a alma”. E mais: “a biblioteca deve tornar-se um lugar de leitura, troca de ideias e interação criativa entre os frequentadores. Enfim, uma usina intelectual”.

A questão que se coloca é saber se estamos vislumbrando essas possibilidades de mudanças, se estamos no caminho para a construção de bibliotecas como esse espaço idealizado. Terão os bibliotecários consciência da necessidade de adequar a atuação profissional, centrada nos recursos e serviços de informação, para o foco em necessidades das pessoas, como sugeriu Fabiano Caruso?

Categoria: Gestão da Informação

[1] Henn, Gustavo. O futuro da biblioteconomia. Bibliotecários sem Fronteiras, 10 ago. 2015.Disponível em:  <http://bsf.org.br/author/gustavo/>. Acesso em 26 ago. 2015.

[2] Steimer, Dora. Haverá futuro?  Já está tendo. Index-a-dora, 10 ago. 2015. Disponível em: <https://indexadora.wordpress.com/2015/08/10/havera-futuro-ja-esta-tendo/>. Acesso em 26 ago. 2015.

[3] Barros, Moreno. Como identificar uma pintura usando Google Images. Bibliotecários sem Fronteiras, 13 ago. 2015. Disponível em: < http://bsf.org.br/2015/08/13/como-identificar-uma-pintura-usando-google-images/>. Acesso em 26 ago. 2015.

[4]CARUSO, Fabiano. Qual a finalidade do trabalho do bibliotecário? Bibliotecários sem Fronteiras, 19 ago. 2015. Disponível em : < http://bsf.org.br/2015/08/19/qual-e-a-finalidade-do-trabalho-bibliotecario/#comment-35638>. Acesso em 26 ago. 2015.

[5]   CASTRO, Cláudio de Moura. Bibliotecas: metamorfose ou morte? Revista  Veja,n. 34,   26 ago. 2015. ,Disponível em : < https://mundobibliotecario.wordpress.com/2015/08/24/bibliotecas-metamorfose-ou-morte/>. Acesso em 26 ago. 2015.